segunda-feira, 24 de maio de 2010

Petróleo no oriente médio

Carissimos, desculpe-me por não enviar postagem nessa semana, mas não tive tempo... Eu ainda estou conseguindo mais arquivos para mandar.. então desfrutem dessa postagem!

Há apenas uns poucos meses atrás, economistas do petróleo estavam a debater se a Organização dos Países Exportadores de Petróleo teria poder para manter os preços em torno dos US$20/barril. Havia conversas acerca da crescente procura de petróleo devido à nova prosperidade económica da China, mas a antiga percepção de que a oferta deve sempre igualar a procura num mercado aberto a funcionar adequadamente geralmente permaneceu intacta. Reconhecidamente, a verificação de que a produção da América do Norte estava em declínio inexorável, significava que a necessidade de importações crescentes não iria diminuir. A crescente dependência em relação ao petróleo do Médio Oriente levantou algumas preocupações, pois os países daquela região são habitualmente retratados como "politicamente instáveis". Alguns observadores concluíram que deve ter havido uma agenda petrolífera por trás da invasão do Iraque, como pareceu confirmar-se quando as armas de destruição em massa, as quais haviam sido apresentadas como a justificação para a guerra, revelaram-se não existentes. Ultrapassados aqueles dias o mundo enfrenta preços do petróleo em torno do dobro do nível anterior. Na verdade, US$50/barril está quase a ser visto mais como um piso do que um teto. Se fosse simplesmente uma questão de tomar o controle do Médio Oriente pela diplomacia ou de outras formas, os preços do petróleo podiam retornar aos níveis tradicionais e permitir aos EUA importar o que necessitasse, mas o que se passaria se o Médio Oriente revelasse ter menos petróleo do que habitualmente se imagina? As reservas de petróleo nestes países são efectivamente segredos de Estado, de modo que é impossível verificar as reservas provadas que são apresentadas nos relatórios habituais das bolsas. Existem várias bases de dados da indústria, mas elas pouco mais podem fazer do que relatar a informação oficial uma vez que elas próprias não estão em posição de avaliar os parâmetros geológicos ou de engineering em pormenor.

REFERÊNCIAS HISTÓRICAS

No fim, talvez a história proporcione a melhor esperança de fazer uma estimativa realista daquilo que esta região sempre tão crítica pode possuir. Examinando números antigos de Oil & Gas Journal descobrimos que o Kuwait relatou reservas de 65 mil milhões de barris em 1980. Ele havia produzido 20,28 mil milhões de barris até aquele momento, o que significa que um total de cerca de 85 mil milhões fora descoberto. Grande parte dele jaz no famoso campo de Burgan, descoberto em 1928, mas também havia um certo número de campos de dimensão gigantesca. Em 1984 a produção acumulada do Kuwait elevou-se para 21,53 mil milhões de barris, o que explica porque as reservas relatadas caíram para 64 mil milhões, uma vez que não houve descobertas significativas nesse intervalo de tempo. Contudo, em 1985 o Kuwait anunciou um aumento maciço de reservas em relação aos seus relatórios anteriores, de milhares de milhões de barris. Mas este quantitativo era próximo ao total descoberto, assumindo um factor de recuperação ligeiramente mais generoso. Foi sugerido que uma das razões para este súbito aumento foi um novo procedimento da OPEP segundo o qual as quotas de produção eram baseadas parcialmente nas reservas relatadas. O Iraque certamente ficou desagradado com a acção do Kuwait e institui procedimentos legais para a consequente perda de rendimentos, mas os outros países membros da OPEP não adoptaram qualquer acção imediata especial. Em 1987 o Kuwait acrescentou uns outros 2 mil milhões de barris, elevando o total relatado das suas reservas a 92 mil milhões, as quais pareciam ter levado ao extremo a tolerância dos seus vizinhos, os quais foram então forçados a reagir. Uma solução simples era relatar aproximadamente os mesmos números do Kuwait. Consequentemente, em 1988 o Abu Dhabi saiu-se precisamente com os mesmos 92 mil milhões de barris relatados pelo Kuwait, um salto de 31 mil milhões em relação ao que fora relatado no ano anterior; o Irão fez ainda melhor, relatando 93 mil milhões de barris, um salto de 49 mil milhões; ao passo que o Iraque, para não ser ultrapassado, saiu-se com um número redondo de 100 mil milhões de barris, um salto de 47 mil milhões. Mas a Arábia Saudita enfrentava a dificuldade de não ser capaz de equiparar-se ao Kuwait pois já estava a relatar mais. Ela ponderou a sua decisão durante mais dois anos antes de anunciar um aumento maciço dos 170 mil milhões de barris para 258 mil milhões, presumivelmente tendo decidido seguir o precedente do Kuwait quando relatou o total descoberto (também descrito como "reservas originais"), e não reservas remanescentes. Vale a pena notar que a Zona Neutra, que é partilhada pelo Kuwait e pela Arábia Saudita, não anunciou tal aumento, presumivelmente porque os seus dois proprietários não tinham motivos comuns para faze-lo. A Venezuela, do outro lado do mundo, foi obrigada a equiparar-se a estes eventos no Médio Oriente, aumentando as suas reservas relatadas para 56 mil milhões de barris em relação aos 25 mil milhões relatados em 1988. Justificou o movimento com a inclusão de petróleo não convencional, que até então não era contado. O que foi dito acima explica porque as reservas relatadas destes países pouco mudaram desde então, apesar da produção substancial. Tais acréscimos, tal como têm sido relatados, podem reflectir novas descobertas genuínas ou melhorias nas suposições acerca da recuperação.

A ERA DO PETRÓLEO

Presentemente o total relatado das reservas deste cinco países do Médio Oriente é de 696 mil milhões de barris, e a produção até à data é de 255 mil milhões de barris (incluindo a Zona Neutra e as perdas na guerra do Kuwait). Mas se os 696 mil milhões de barris representam o total das reservas descobertas, como sugere o argumento acima, isto significa que as reservas reais são de apenas 441 mil milhões de barris. A OGJ estima a reservas mundiais de petróleo para 2004 em 1.278 mil milhões de barris. Se removermos a anomalia do Médio Oriente acima discutida e os 179 mil milhões que foram acrescentados em 2003 relativos às areas petrolíferas canadianas, chegamos a um novo, mais realista, total mundial de 853 mil milhões de barris. Umas 65 estimativas publicadas da recuperação final (ultimate recovery) de petróleo convencional apresentam uma média de 1.930 mil milhões de barris. O mundo até então produziu 944 mil milhões de barris, e reservas realistas na base acima estabelecem-se nos 853 mil milhões de barris, o que significa que há 133 mil milhões de barris ainda por descobrir se aceitarmos aquela recuperação final. Novas descobertas, especialmente de campos gigantes críticos, têm estado a cair durante 40 anos, como confirmado pela ExxonMobil Corp. ao reduzir as reservas para menos de 10 mil milhões no ano passado. Isto sugere que na generalidade este cálculo não é incorrecto. Isto soa como se o mundo tivesse utilizado cerca de 49% da sua dotação de petróleo convencional, o que significa que está agora próximo ao ponto médio do esgotamento, o qual normalmente corresponde ao pico da produção. O próprio pico não é um evento particularmente significativo, mas a implacável inclinação declinante que se segue certamente o é. Podemos dizer, por outras palavras, que o mundo atingiu o fim da Primeira Metade da Era do Petróleo, o qual perdurou por 150 anos desde que os primeiros poços foram perfurados na Pennsylvania e nas margens do Mar Cáspio. Este período assistiu à expansão rápida da indústria, dos transportes, do comércio, da agricultura e do capital financeiro, possível em grande parte pela oferta da energia abundante e barata com base no petróleo. A população mundial expandiu-se seis vezes em paralelo com o petróleo. Agora, inicia-se a Segunda Metade da Era do Petróleo. Ela será marcada pelo declínio da produção petrolífera, e tudo depende dele. A transição provavelmente será um tempo de grande tensão e dificuldade, particularmente em relação ao capital financeiro. O capital foi gerado durante a Primeira Metade da Era do Petróleo com base na confiança de que a expansão de amanhã proporcionará a garantia (collateral) para a dívida de hoje. Segue-se que o sistema fracassará durante a Segunda Metade se o declínio do petróleo minar o espaço para a expansão. Isto parece um assunto sério, sublinhando a necessidade de maior transparência no relato das reservas. A ênfase está na palavra relato, pois os engenheiros agora podem fazer boas estimativas da dimensão de um campo petrolífero já no princípio da sua vida, especialmente com a ajuda de todos os avanços notáveis de tecnologia e de conhecimento. Mas assuntos sérios muitas vezes não são populares, o que explica porque muitas pessoas, incluindo aquelas no governo, podem preferir não saber.


Fonte: http://resistir.info/energia/campbell_04abr05.html

Um comentário:

  1. Caros companheiros e amigos , gostaria que postassem um artigo sobre a criação da OPEP, seus membros e o futuro do Brasil em relação ao Pré-sal... Amilton

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